domingo, 4 de dezembro de 2011

Abarcar ...



"Eu fui sincero como não se pode ser, e um erro assim, tão vulgar, nos persegue a noite inteira e quando acaba a bebedeira ele consegue nos achar. Num bar, com um vinho barato, um cigarro no cinzeiro e uma cara embriagada no espelho do banheiro"


       Clarice está entre amigos, mas prefere não dizer nada, caminha entre seus pensamentos. Sua mente é tão confusa quanto o labirinto de creta, e ela se perde mais uma vez... Mal respira, ela não se encontra mais ali, foi-se embora com sua dúvidas e angústias.
       Ao ver o seu olhar tão distante um amigo preocupado pergunta:
           - Clarice, está tudo bem?
       Ela abre um de seus sorrisos - nem sabe de onde vem a força para sorrir - e diz:
           - Claro, tudo ótimo!
      Clarice toma mais um gole de seu drink, e no fundo se pergunta "porque não disse a Otávio o que estava acontecendo? Porque finalmente não despi a minha armadura e confiei isso há alguém?", mas não. Clarice não nasceu para confiar, se fechar em seu mundo é a sua forma de não se apegar à aqueles que sempre se vão. Não falar, não era mais questão de orgulho, era sua forma de sobrevivência.

      Voltava novamente a utopia de sua vida, brincava, ria, conversava com os que se encontravam ali, mas na verdade gostaria de se trancar no banheiro e chorar todas as mágoas que a corroía por dentro. Clarice está com 20 anos, mais age como se tivesse 13, possui tanto medo das pessoas, tanta insegurança a respeito do futuro que prefere não pensar. Pega mais uma bebida, Otávio lhe sorrir, e ela retribui com um sorriso amarelado, e vai pra pista, dança como se não houvesse amanhã, ali seus pensamentos não incomodava, era como se fosse só ela e a música.
      A festa acaba, o dia amanhece e Clarice pensa em como as manhãs estão cada vez mais mais belas, e sorri, dessa vez de verdade. Otávio retribui esse sorriso e a abraça, um abraço apertado, caloroso que ela não recebia a muito tempo, e ela precisava daquele carinho. Se despede dos amigos, mas não queria ir embora, Otávio se oferece para leva-la até em casa, mais Clarice entra no carro como se estivesse deixando uma visão de vida nova para trás, mesmo sabendo que aquele encontro se repetiria dias depois. Ela não queria mesmo era ficar só, ela já sente saudade.
      Otávio finalmente a beija, um beijo de vontade, de desespero, como se aquele momento fosse fugir e realmente foge, corre, desaparece em seus pensamentos. Clarice rir, fica feliz, como se aquela noite fosse perfeita, como se todas fossem. Passa horas conversando com Otávio na porta de casa, mais chega um momento que ela ver que é hora de subir, se despede e sai, nem olha para trás, prefere assim. Quando a porta do elevador se fecha, ela se sente realmente só, fechada no cubículo que é a sua vida.
       Clarice se tranca em seu quarto e coloca um dos seus discos favoritos de blues para tocar, e escreve compulsivamente, com uma taça de vinho e um cigarro entre os dedos. Sozinha, sua cabeça se cerca de se, se, se, se, e ela promete não pensar, não planejar o futuro mais uma vez. Jura e promete, mas há muitas promessas que nascem para não serem compridas. O sono chega e Clarice dorme, como se aqueles pensamentos não estivessem ali, está finalmente só, com um sorriso leve e com o coração tranquilo. Tudo está bem, Clarice apenas escuta suas músicas durante um sono leve, e pensa que amanhã será outro dia, ainda mais belo, e assim se espera...
      
Ouvindo: