segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Passos largos ...

"O mundo é uma flor e é o espinho, viver é ser na multidão sozinho. Um passo para frente é outro abandonado, no mundo uma ilusão de cada lado".
http://letras.terra.com.br/pedro-morais/789109/
 
 Clarice vira de um lado para outro na cama, desiste de dormir e pega o livro de cabeceira, tenta ler mais não consegue se concentrar, a cada final de frase ela se pergunta o que havia lido no início desta, retorna ao começo, mas ao chegar ao final tudo se repetia. Finalmente desiste de ler.
     Está sempre desistindo, por mais que tente ela não resistia, abandonar tudo pela metade à parecia mais simples. Acreditava nos astros e usava isso para justificar sua falta de perseverança, "sou geminiana, é normal ter mil coisas na cabeça e não concretizar nenhuma delas", mas não era isso, Clarice tinha medo do fim, de dizer adeus, preferia fugir.
     Sentada na janela com seu fone no ouvido pensava em João, Luiz Otávio... Como havia deixado tudo para trás, e como isso mudou com a chegada de Otávio, não fugia dele, com ele não tinha medo do fim, talvez porque com ele tenha a certeza de que está no caminho certo, talvez porque ele lhe dê a confiança de que não haverá fim.
     Decidi, pula a janela e vaga pela rua vazia, coloca uma música animada para tocar, uma nova melódia para uma nova cidade, e a antiga promessa de vida nova. Sorri e pensa em algo que todos lhe dizem "no final tudo dá certo", ela não sabia se isso era verdade, nunca havia chegado ao final de nada na sua vida. Pensa em ir embora, trocar de curso. Pensa melhor, e decide ficar, tentar, lutar, se arriscar, pensar menos, agir mais.
     Diminui os passos, pois já corria, não sabia para onde estava indo, mas mesmo assim seguia em frente. A vida é assim, como caminhar durante a madrugada em uma cidade desconhecida. A vida é algo desconhecido, a cada esquina encontramos algo inimaginável, e queremos correr, hora por desespero, hora por medo. Mas devemos ir devagar, ver em quais esquinas virar, andar a passos lentos, olhar bem para as pedras em que vamos pisar, há não esperar grandes surpresas, mas esperar o melhor. Mais a vida é principalmente seguir em frente, apesar de tudo, pois afinal, andar sempre no mesmo rumo não teria a menor graça.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Se parece um mês...

     As horas não passam e Clarice olha repetitivas vezes ao relógio esperando a hora de ir. Deitar na sua cama, viver sua bagunça. Nem se lembrava da última vez que havia pisado em uma igreja, no sino tocando a cada hora, das crianças correndo pela praça e as pessoas andando a passos tão lentos em pleno centro. Eles olhavam para Clarice como se ela fosse uma estranha, olham para ela e a veem com o fone no ouvido, com o olhar desconfiado enquanto segura a bolsa e corre desesperadamente para resolver tudo ainda à tempo de pegar o próximo ônibus.
     As pessoas conversam nas esquinas enquanto lavam as suas calçadas, e por mais alto e longe que se olhe não se vê nenhuma construção acima de 3 andares. Em seus devaneios Clarice pensa em como seria morar ali, conhecer a todos, ter um cachorro no quintal de casa, ter um quintal. Mas chega a conclusão de que não iria se adaptar, gosta dos prédios, do trânsito, da poluição, do fato de que ninguém  a conheça, o lugar onde pode ser quem quiser a qualquer hora do dia.
     Quem passa a olha como se fosse uma sardinha fora do cardume, a notam e dizem bom dia. Clarice estranha como é ser notada, a curiosidade se estampa na testa das pessoas, devem estar pensando "quem é essa forasteira isolada no quanto da praça". Se envergonham ao perceberem que Clarice os notou (será que já não estão acostumados a serem notados?), abaixam o olhar e seguem em seus passos lentos morro a cima.
     A hora da mudança chegou, Clarice sonhou tanto em ingressar em uma faculdade federal que agora se sente estranha, perdeu seu norte. Em 1 semana suas malas chegam, a mudança se acaba e ela dirá adeus, melhor até breve. Já se acostuma com os carros lentos, os passos ainda mais lentos, os "bons dias" pela manhã, o barulho da vassoura ao varrerem as calçadas, se acostuma, mais não pertence a esse cardume.