"O mundo é uma flor e é o espinho, viver é ser na multidão sozinho. Um passo para frente é outro abandonado, no mundo uma ilusão de cada lado".
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Clarice vira de um lado para outro na cama, desiste de dormir e pega o livro de cabeceira, tenta ler mais não consegue se concentrar, a cada final de frase ela se pergunta o que havia lido no início desta, retorna ao começo, mas ao chegar ao final tudo se repetia. Finalmente desiste de ler.
Está sempre desistindo, por mais que tente ela não resistia, abandonar tudo pela metade à parecia mais simples. Acreditava nos astros e usava isso para justificar sua falta de perseverança, "sou geminiana, é normal ter mil coisas na cabeça e não concretizar nenhuma delas", mas não era isso, Clarice tinha medo do fim, de dizer adeus, preferia fugir.
Sentada na janela com seu fone no ouvido pensava em João, Luiz Otávio... Como havia deixado tudo para trás, e como isso mudou com a chegada de Otávio, não fugia dele, com ele não tinha medo do fim, talvez porque com ele tenha a certeza de que está no caminho certo, talvez porque ele lhe dê a confiança de que não haverá fim.
Decidi, pula a janela e vaga pela rua vazia, coloca uma música animada para tocar, uma nova melódia para uma nova cidade, e a antiga promessa de vida nova. Sorri e pensa em algo que todos lhe dizem "no final tudo dá certo", ela não sabia se isso era verdade, nunca havia chegado ao final de nada na sua vida. Pensa em ir embora, trocar de curso. Pensa melhor, e decide ficar, tentar, lutar, se arriscar, pensar menos, agir mais.
Diminui os passos, pois já corria, não sabia para onde estava indo, mas mesmo assim seguia em frente. A vida é assim, como caminhar durante a madrugada em uma cidade desconhecida. A vida é algo desconhecido, a cada esquina encontramos algo inimaginável, e queremos correr, hora por desespero, hora por medo. Mas devemos ir devagar, ver em quais esquinas virar, andar a passos lentos, olhar bem para as pedras em que vamos pisar, há não esperar grandes surpresas, mas esperar o melhor. Mais a vida é principalmente seguir em frente, apesar de tudo, pois afinal, andar sempre no mesmo rumo não teria a menor graça.