sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Se parece um mês...

     As horas não passam e Clarice olha repetitivas vezes ao relógio esperando a hora de ir. Deitar na sua cama, viver sua bagunça. Nem se lembrava da última vez que havia pisado em uma igreja, no sino tocando a cada hora, das crianças correndo pela praça e as pessoas andando a passos tão lentos em pleno centro. Eles olhavam para Clarice como se ela fosse uma estranha, olham para ela e a veem com o fone no ouvido, com o olhar desconfiado enquanto segura a bolsa e corre desesperadamente para resolver tudo ainda à tempo de pegar o próximo ônibus.
     As pessoas conversam nas esquinas enquanto lavam as suas calçadas, e por mais alto e longe que se olhe não se vê nenhuma construção acima de 3 andares. Em seus devaneios Clarice pensa em como seria morar ali, conhecer a todos, ter um cachorro no quintal de casa, ter um quintal. Mas chega a conclusão de que não iria se adaptar, gosta dos prédios, do trânsito, da poluição, do fato de que ninguém  a conheça, o lugar onde pode ser quem quiser a qualquer hora do dia.
     Quem passa a olha como se fosse uma sardinha fora do cardume, a notam e dizem bom dia. Clarice estranha como é ser notada, a curiosidade se estampa na testa das pessoas, devem estar pensando "quem é essa forasteira isolada no quanto da praça". Se envergonham ao perceberem que Clarice os notou (será que já não estão acostumados a serem notados?), abaixam o olhar e seguem em seus passos lentos morro a cima.
     A hora da mudança chegou, Clarice sonhou tanto em ingressar em uma faculdade federal que agora se sente estranha, perdeu seu norte. Em 1 semana suas malas chegam, a mudança se acaba e ela dirá adeus, melhor até breve. Já se acostuma com os carros lentos, os passos ainda mais lentos, os "bons dias" pela manhã, o barulho da vassoura ao varrerem as calçadas, se acostuma, mais não pertence a esse cardume.